3 de novembro de 2015

24 de setembro de 2015

Uso da saliva para fins diagnósticos

A saliva é composta por um amplo espectro de proteínas/peptídeos, ácidos nucléicos, eletrólitos e hormônios que se originam de várias fontes locais e sistêmicas. Sua composição representa também a condição glandular no momento de coleta e, ainda, possui componentes do soro e outros componentes extra-salivares, como fluido crevicular gengival, transudato de mucosa e locais de inflamação, células epiteliais e do sistema imunológicos além de microorganismos. Essas moléculas são transportadas do sangue tanto via intracelular como extracelular, por difusão passiva, transporte ativo através de proteínas de ligação ou ultrafiltração. Sendo assim, a saliva é capaz de refletir a saúde do corpo e bem estar e tem sido considerada de grande relevância clínica no diagnóstico e prevenção de doenças. Além disso a saliva é um bom meio de análise devido a sua coleta e armazenamento ser de fácil manejo, não invasiva e livre de estresse.

De um ponto de vista bioquímico, as proteínas são os constituintes mais importantes da saliva já que esses compostos podem ser informativos para monitorar a saúde oral e geral e investigar a patogênese de doenças. Uma análise abrangente e identificação do conteúdo proteico na saliva humana é o primeiro passo para descobrir novas biomoléculas salivares associados à saúde humana e ao estado da doença. Técnicas tradicionais como cromatografia líquida, eletroforese em gel ou capilar e imunoensaio têm sido usadas para esse tipo de análise. A presença de proteína C-reativa no fluido salivar, por exemplo, é um fator de resposta inflamatória não específica e aumenta em muitas condições em que se tem predisposição à doença periodontal. Além disso, a proteína C-reativa, a mioglobina e mieloperoxidase foram demonstrados ser úteis para complementar os resultados de um eletrocardiograma, após um infarto agudo do miocárdio, por meio de análise colorimétrica desses analitos. Já a presença elevada de imunoglobulinas, no fluido salivar, é, muitas vezes, associada com doença arterial coronariana. Níveis elevados do biomarcador salivar lisozima para a infecção oral e hiperglicemia mostrou uma associação significativa com a hipertensão, um estágio inicial de doença cardiovascular. Quanto ao diagnóstico de carcinoma epidermóide de boca e avaliação dos seus estágios de desenvolvimento, incluindo, processo inicial, invasão, recorrência e tratamento já têm sido feitos também pela detecção de biomarcadores salivares.
 O crescimento das oportunidades de diagnóstico para saliva tem sido reduzido devido, principalmente, às limitações na tecnologia de detecção sensível e falta de compreensão da biologia salivar, em particular, a falta de correlação entre biomoléculas do sangue com a saliva. No entanto, o desenvolvimento e estabelecimento de uma nova técnica de teste diagnóstico é influenciado por sua precisão, custo-benefício e facilidade de uso, necessidades que colocam a saliva como excelente candidato a mais estudos de biomarcadores.

Nota-se então que a saliva se destaca como ferramenta molecular de grande valia, podendo ser objeto de diversas frentes de estudo como o desenvolvimento de medicamentos, medicina personalizada (farmacogenômica) e descoberta de biomarcadores para o diagnóstico de doenças bucais e sistêmicas. Outras formas de uso deste fluido também incluem análise de programas populacionais de triagem, confirmação do diagnóstico, estratificação de risco, determinação de prognóstico e até mesmo, monitoramento da resposta terapêutica.

Autora: Elisa Carvalho de Siqueira (elisadesiqueira@hotmail.com)


Referências
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