A
perda de heterozigosidade (loss of heterozygosity; LOH) é um fenômeno biológico resultante de variações
ambientais e/ou genéticas como instabilidades genômicas, incluindo não
disjunção mitótica e recombinação, perda cromossomal, mutação e deleção do DNA,
translocação e conversão gênica. Os estudos de LOH identificam mudanças na
dosagem de um alelo heterozigoto em relação ao outro alelo, em diferentes loci (ver figura abaixo). A análise em neoplasias é geralmente conduzida
com amostras pareadas normal/tumor. Esta análise identifica regiões de
LOH examinando alterações no status genômico de células normais com células
tumorais do mesmo paciente. Se a LOH acontece em um gene supressor de tumor e o
alelo remanescente sofre mutação, deleção ou silenciamento genético, este evento
leva a célula ao estado de hemizigose (uma alelo deletério e um deletado) ou
homozigose para o alelo deletério. A consequência deste estado pode ser a
inativação da função supressora de tumor, contribuindo para o desenvolvimento
de câncer ou metástase. Identificação de regiões de LOH aumenta o entendimento
dos mecanismos de formação de tumores, podendo facilitar o desenvolvimento de
marcadores de prognóstico genético e de alvos terapêuticos.
Atualmente,
técnicas moleculares bem estabelecidas e rotineiramente usadas para examinar
LOH incluem hibridização genômica, hibridização fluorescente in situ e reação em cadeia da polimerase
(PCR). Esta última abordagem analítica é baseada na amplificação por PCR de
sequencias polimórficas em locais estratégicos do genoma (marcadores genéticos) utilizando iniciadores
fluorescentes, seguido de análise dos picos do eletroferograma que foram
gerados pela presença dos produtos fluorescentes da PCR (ver figura abaixo).
Leucoplasias
orais apresentam com frequência LOH em alguns genes supressores de tumor. Esta
alteração é encontrada com maior frequência nas leucoplasias com displasias ou
atipias epiteliais intensas em comparação com as lesões sem atipia. Lesões que
exibem LOH em vários marcadores genéticos apresentam maior probabilidade de transformação
maligna. Entretanto, na análise individual, os marcadores genéticos não são confiáveis
como ferramentas para diagnóstico, porque mesmo lesões sem LOH podem sofrer
transformação maligna. É curioso também que a mucosa normal adjacente a
leucoplasia ou ao carcinoma pode também exibir LOH.
Figura. Curvas representativas da análise de perda de
heterozigosidade (LOH). O tecido normal é heterozigoto e apresenta dois picos (1 e 2) referentes a presença de dois alelos (a). As células tumorais que apresentam LOH
exibem perda de uma dos picos (b) ou redução de um deles (c). Uma
alteração na relação: (altura alelo 1 normal/ altura alelo 2 normal) / (altura
do alelo 1 tumor/altura do alelo 2 tumor)
que seja <0 .66="" ou="">1.5 é considerada LOH. 0>
Leitura complementar:
- Rosin MP, Cheng X, Poh C, Lam WL, Huang YH, Lovas J, Berean K, Epstein JB, Priddy R, Le ND, Zhang L. Use of allelic loss to predict malignant risk for low-grade oral epitelial dysplasia. Clin Can Res 2000;6:357-362.
- Smith J, Rattay T, McConkey C, Helliwell T, Mehanna H. Biomarkers in dysplasia of the oral cavity: A systematic review. Oral Oncology 2009;647-653.
Autores:
Marina Gonçalves Diniz (marinadiniz@gmail.com)
Ricardo Santiago Gomez
(rsgomez@ufmg.br)
"É curioso também que a mucosa normal adjacente a leucoplasia ou ao carcinoma pode também exibir LOH" Esta é uma das bases conceituais que sustentam o conceito de campo de cancerização em mucosa oral. Interessados visitem:
ResponderExcluirhttp://www.ricardosgomez.com/temas-relevantes/campo-de-canceriza%C3%A7%C3%A3o-/