A hemostasia é um processo fisiológico
complexo, que envolve mecanismos físicos (contração vascular) e químicos
(liberação de mediadores relacionados à coagulação). Os pacientes com desordens
hemorrágicas podem apresentar defeitos em qualquer um desses mecanismos. O
manejo do paciente que apresenta distúrbio hemorrágico depende, portanto, da
etiologia dessa condição.
A trombocitopenia é um importante
distúrbio relacionado à coagulação, caracterizada pela redução do número
de plaquetas no sangue. Quando
a quantidade de plaquetas é inferior a 150.000/mm³ diz-se que o indivíduo
apresenta trombocitopenia (ou plaquetopenia). Pacientes com trombocitopenia
possuem maior tendência a apresentar fenômenos hemorrágicos (hemorragias).
A trombocitopenia tem como característica clínica o sangramento muco-cutâneo. O
sangramento geralmente envolve pequenos vasos superficiais e produz petéquias
na pele ou em mucosas. A trombocitopenia pode ter diversas causas:
trombocitopenia induzida por drogas, insuficiência da medula óssea,
hiperesplenismo (aumento de volume do baço que pode resultar em seqüestração e
destruição das plaquetas), púrpura trombocitopênica imunológica (PTI), púrpura
trombocitopênica trombótica (PTT), dengue, quimioterapia e/ou radioterapia,
álcool e trombocitopenia relacionada com a síndrome da imunodeficiencia
adquirida (SIDA). Alterações genéticas que acarretam trombocitopenia são raras.
Todos os pacientes odontológicos devem ser
avaliados em reação a possíveis distúrbios hemorrágicos rotineiramente. Na
história pregressa do paciente buscam-se informações sobre a presença de
equimose facial, ocorrência de epistaxe, sangramento menstrual intenso,
história de sangramento intenso após traumatismo ou cirurgia, inclusive
odontológica, e levantamento da história familiar sobre distúrbios
hemorrágicos. Além disso, o histórico sobre uso de medicamentos que influenciam
na coagulação sanguínea e abuso de drogas deve ser investigado. No exame físico
extra-bucal, o profissional deve avaliar se há presença petéquias ou equimose.
Já no exame físico intra-bucal, atenção dever ser dada a presença de pétequias
e equimoses na superfície da mucosa bucal, sangramento gengival espontâneo ou à
sondagem periodontal. Quando houver suspeita de alguma alteração relacionada à
coagulação, deve-se proceder a avaliação laboratorial, através de exames de
contagem de plaquetas (presente no hemograma), tempo de sangramento, tempo de
tromboplastina parcial (TTP) e tempo de protrombina (TP).
Para os pacientes sem alterações dignas
de nota à anamnese, no exame físico e nos exames laboratoriais, o tratamento
odontológico deve ser realizado no esquema habitual. Já para aqueles pacientes
em uso de medicamentos anticoagulantes ou ácido acetilsalicílico (AAS), com
distúrbios hemorrágicos conhecidos, como a trombocitopenia, o tratamento
odontológico eletivo deve ser evitado e a consulta com o médico é obrigatória.
Nos casos em que o tratamento
odontológico não pode ser adiado, emprega-se a transfusão de plaquetas, feito
por meio das unidades plaquetárias; cada uma dessas unidades que elevará a
contagem dessas células em cerca de 10.000/mm3 e deve ser
realizado cerca de 20 minutos antes do procedimento proposto.
No que se refere à administração de
medicamentos, também é importante evitar a administração de drogas que possam
comprometer a função das plaquetas restantes. O AAS e medicamentos que contenha
o AAS são os principais responsáveis por esse comprometimento.
Literatura
sugerida
- Henderson JM, Bergman S, Salama A, Koterwas G. Management of the oral and maxillofacial surgery patient with thrombocytopenia. J Oral Maxillofac Surg. 2001, 59(4):421-7.
- Levy JH, Dutton RP, Hemphill JC 3rd, Shander A, Cooper D, Paidas MJ, Kessler CM, Holcomb JB, Lawson JH; Hemostasis Summit Participants. Multidisciplinary approach to the challenge of hemostasis. Anesth Analg. 2010, 110(2):354-64.
- Sonis ST, Fazio RC, Fang L. Princípios e prática de medicina oral. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1996. 491p.
Autora: Renata Resende (renatagresende@yahoo.com.br)
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