9 de março de 2018

A via Wnt/β-catenina está desregulada em fibromas cemento-ossificantes.

A patogênese molecular do fibroma de cemento-ossificante (FCO) não está clara. Em um estudo recente, foi investigado mutações em 50 oncogenes e genes supressores de tumores, incluindo APC e CTNNB1, onde mutações em FCO foram relatadas anteriormente. Além disso, foi avaliado os níveis de transcrição dos genes da via Wnt/β-catenina em FCO. 

Um array de PCR quantitativa foi utilizada para avaliar os níveis de transcrição de 44 genes da via Wnt/β-catenina em 6 amostras de FCO, em comparação com 6 amostras de osso saudável. O sequenciamento de nova geração (SNG) foi realizado em 7 amostras FCO para investigar aproximadamente 2800 mutações em 50 genes.

O ensaio de expressão gênica revelou 12 genes de via Wnt/β-catenina diferencialmente expressos em FCO, incluindo maior expressão de CTNNB1, TCF7, NKD1 e WNT5 A e menor expressão de CTNNBIP1, FRZB, FZD6, RHOU, SFRP4, WNT10 A, WNT3 A, e WNT4, sugerindo a ativação da via de sinalização Wnt/β-catenin. O estudo do SNG revelou 5 variantes do tipo SNP: TP53 (rs1042522), PIK3 CA (rs2230461), MET (rs33917957), KIT (rs3822214) e APC (rs33974176), mas nenhuma delas considerada patogênica.

Embora a NGS não tenha detectado mutação oncogênica, a desregulação dos genes chaves da via de sinalização Wnt/β-catenina parece ser relevante para a patogênese molecular da FCO.


Leia o trabalho completo:

  • Pereira TDSF1, Diniz MG1, França JA2, Moreira RG3, Menezes GHF2, Sousa SF1, Castro WH1, Gomes CC2, Gomez RS4. The Wnt/β-catenin pathway is deregulated in cemento-ossifying fibromas. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol. 2018;125(2):172-178.







A biologia molecular no campo da dor orofacial

A dor orofacial refere-se à dor associada a tecidos moles e duros da face, cavidade oral, cabeça e pescoço. Disfunções dolorosas que acometem estruturas orofaciais como doenças do sistema nervoso periférico ou central, disfunções músculo-esqueléticas ou manifestações de distúrbios psicossociais são condições altamente debilitantes, sendo o tipo mais prevalente na população as disfunções temporomandibulares (DTM).

DTM é um termo genérico que engloba distúrbios musculoesqueléticos específicos do sistema mastigatório. O sintoma mais comum é dor espontânea que, geralmente, concentra-se na musculatura mastigatória e/ou na articulação temporomandibular (ATM), impactando negativamente em atividades diárias e na qualidade de vida daqueles que sofrem dessa disfunção. A DTM pode afetar até 25% da população em geral, sendo mais frequente no sexo feminino entre 20 e 40 anos de idade.
A etiologia da DTM é complexa e multifatorial, incluindo hábitos parafuncionais, fatores psicossociais, neurfisiológicos, genéticos, distúrbios do sono, entre outros. A heterogeneidade da etiologia da DTM é um complicador para o clínico encontrar a melhor forma de tratamento para cada paciente. Por isso, os estudos atuais têm investigado biomarcadores moleculares, como citocinas inflamatórias, neurotransmissores e neuropeptídeos envolvidos na nocicepção, e também fenótipos intermediários que estejam relacionados com a etiopatogênese dessas disfunções, a fim de aprimorar o tratamento da dor crônica.

Um dos maiores estudos que avaliam a influência de fatores genéticos, como polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs, sigla em inglês), no princípio da DTM é o estudo do OPPERA (Orofacial pain prospective evaluation risk and assessment). Esse trabalho avaliou prospectivamente mais de 2700 indivíduos saudáveis durante sete anos para analisar aqueles que desenvolveram DTM. Foram investigados em todos os voluntários da pesquisa, SNPs de genes relacionados à sensibilidade somatossensorial, processos inflamatórios e componentes emocionais. Mais de 20 genes foram associados ao início da DTM. Os autores desse estudo propõem que esses genes tem grande influência em dois principais domínios que caracterizam o início e persistência da DTM: amplificação da dor (em função de lesões, estado inflamatório e/ou deficiência na modulação da dor) e aspectos psicossociais (como catastrofização ou somatização da dor).

Atualmente, existe uma vasta variedade de abordagens terapêuticas para DTM, mas nenhuma é biologicamente específica. Os tratamentos existentes podem ser eficazes para uma parte dos portadores de DTM, mas ainda há uma grande parcela de indivíduos refratários aos tratamentos convencionais. A busca de biomarcadores moleculares, através de estudos como o OPPERA, possibilita novas perspectivas no diagnóstico, prognóstico e tratamento dessas disfunções. Idealmente, isso nos permitirá adaptar ou individualizar tratamentos com base em fatores genéticos específicos de indivíduos diagnosticados com DTM.

Autora: Flávia Fonseca Carvalho Soares (flaviafcsoares@gmail.com)


Referências:

  • Bender SD. Orofacial pain and headache: a review and look at the commonalities. Curr Pain Headache Rep. 2014;18(3):400. 
  • Smith SB, Mir E, Bair E, Slade GD, Dubner R, Roger B, et al. OPPERA prospective cohort study. J Pain. 2013;14(12 0):1–20. 
  • Romero-Reyes M, Uyanik JM. Orofacial pain management: Current perspectives. J Pain Res. 2014;7:99–115. 
  • Grosman-Rimon L, Parkinson W, Upadhye S, Clarke H, Katz J, Flannery J, et al. Circulating biomarkers in acute myofascial pain. Medicine (Baltimore). 2016;95(37):e4650.